Hoje estava assistindo o Jornal da Manhã, da Rede Globo, por acaso, na verdade liguei a TV e estava lá, não mudei porque estava meio ocupada (não costumo assistir a Globo, mas enfim...), e três reportagens diferentes me chamaram a atenção, fui então formando uma ideia vaga , que não reflete em absoluto a realidade, longe de mim acreditar que prego verdades absolutas, se é que estas existem. Mas ao relacionar as três reportagens o seguinte pensamento tomou a minha mente: Vivemos num "faz de conta".
Explicarei agora como cheguei a essa conclusão: a primeira notícia falava da canonização do Padre José de Anchieta e como os representantes católicos acharam aquele ato do Papa Francisco importante para a população brasileira. A segunda notícia tratava da greve (na verdade uma paralisação) dos professores da rede estadual de ensino da Bahia, e como a mesma estava prejudicando o cumprimento do calendário letivo de 2014. A terceira notícia expunha a situação de um aeroporto em Barretos, que há cinco anos não tem funcionamento efetivo por faltarem adaptações para chegada de aviões de médio e grande porte, o que prejudica uma parte da população que vai àquela cidade em busca de atendimento num famoso hospital que atende uma especialidade rara de doença.
Estava na realidade fazendo minhas coisas, ouvindo as notícias e , ao matutar sobre elas, esse pensamento tomou conta de mim, de que nos acostumamos a fazer de conta, a viver nesse faz de conta. Fazemos de conta que temos educação pública, que o sistema educacional dá condições à população em geral de estudar e se manter em escolas bem estruturadas, com Secretarias de Educação organizadas, que estabelecem o calendário letivo de acordo com a realidade de cada contexto e acompanha de perto as ações desenvolvidas na rede; fazemos de conta que, se algo vai mal na educação pública, o culpado é o professor que bagunça tudo com as greves e que não se preocupa com a formação dos seus estudantes.
Fazemos de conta que temos saúde pública (não vou nem falar em qualidade aqui), que os (poucos) hospitais que atendem especialidades são suficientes, que só temos de fazer um esforço para ter acesso aos mesmos. E o que dizer dos meios de transporte? Me deu vontade de rir quando se falou sobre a população utilizar o transporte aéreo para chegar ao aeroporto em Barretos, como se andássemos todos de avião para lá e para cá...
Nesse momento me veio a relação com a primeira notícia, do Sto. Padre Anchieta. As imagens mostravam centenas de fiéis comemorando essa canonização, felizes pelo novo Santo brasileiro. Foi então que relacionei as três reportagens e percebi como ficamos à espera de um herói, um "salvador da pátria", de alguém, de carne e osso ou não, para nos socorrer e aliviar nossas dores, secar nosso pranto. Como no "faz de conta", precisamos de um príncipe para nos salvar do dragão da maldade.
A questão principal é a falta de autoestima do povo brasileiro. Não acreditamos em nós, em nossa capacidade de tomar as rédeas da situação e nos posicionar, exercendo nossa cidadania. Nos colocamos no papel de vítimas, o tempo inteiro nos vitimizamos. Existem vítimas de injustiças e que não tem condições de lutar, sim. Mas com certeza não é maioria da população. Penso que, enquanto não nos vermos como autores da história e heróis da nossa vida, viveremos indefinidamente nesse conto de fadas. Mas sem final feliz.
Ssa, 02/04/2014
Mídia